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As Filhas sem nome

08/05/2010

por Carolina Bossoni

A mais recente obra da escritora chinesa Xinran (autora do livro As boas mulheres da China) conta a história de três (de um total de seis) irmãs que saem da província rural de Anhui para a cidade de Nanjing à procura de emprego e melhores oportunidades.

As irmãs do livro não têm nome. De acordo com a história o seu pai tem tanta vergonha de ter gerado seis filhas e nenhum filho que não se preocupou em dar nomes a elas, que ficam conhecidas pela ordem do seu nascimento. As irmãs que vão para a cidade são a três, a cinco e a seis. O livro é baseado em histórias reais que Xinran ouviu em sua cidade natal. A narrativa nos mostra elementos da cultura chinesa após a Revolução Cultural. E mostra também as discrepâncias entre a vida de mulheres chinesas do campo e das cidades.

As filhas sem nome nos conta como estas moças venceram inúmeros desafios e superaram, acima de tudo, o estigma de ser mulher em uma cultura que supervaloriza o nascimento de filhos homens e onde os casamentos ainda são arranjados e as mulheres não têm direito de controlar seu próprio destino.

Alguns trechos do livro:

pg.20

“Começa em uma manhã fria de fevereiro, quando uma garota de dezenove anos chamada  Sanniu, que significa “três” em chinês, se viu de pé ao lado do salgueiro, estarrecida devido ao movimento de gente ao seu redor. Três estava fugindo de casa porque seus pais planejavam casá-la com o filho aleijado de um oficial do governo local. Tivera sorte.”

pg. 32

“Li Zhongguo, conhecido no vilarejo como Irmão Li Um, era um homem que jamais sorria. Embora fosse o mais velho dos filhos Li, o fato de que tivera seis filhas significava que ele jamais poderia caminhar de cabeça erguida como um verdadeiro homem, mas, em vez disso, tinha que se curvar  aos seus irmãos mais novos e aceitar um status mais baixo na família.”

pg.130

“As palavras de Cinco chamaram Três e Seis à realidade. Não era culpa dela não ter ido à escola. Os dois anos que Três passara na escola primária foram extremamente difíceis para a família, que mal teve dinheiro para comprar óleo de cozinha.”

pg.168

“De início Seis pensou que o casal era simplesmente ganancioso, querendo acrescentar mais livros à sua coleção pessoal. Afinal de contas, Meng dissera que ainda tinha muitas perguntas a responder. Mas à medida que o tempo passava, ela ouvia alguns clientes dizendo coisas como “Este livro ainda é proibido, mas a proibição quanto a este foi retirada”, e só então ela entendeu por que nem todos os livros podiam ser oferecidos para as pessoas lerem.”